Por FLÁVIA GIANINI da Revista da Folha
Quando o resultado dos exames apontaram que a pinscher Piti, 8, estava com lúpus eritematoso, a dentista Fernanda Souza, 25, sentiu alívio. Depois de seis meses de tratamentos ineficazes, o diagnóstico correto parecia a solução do problema. Fernanda não podia adivinhar a jornada que enfrentaria. A certeza que a doença estava longe do fim só aconteceu no dia seguinte, quando ela descobriu que o remédio para tratá-la era ainda mais raro.
A dosagem adequada ao peso de 1,6 kg da pinscher era dez vezes menor que o medicamento encontrado no mercado. "Nenhuma farmácia de manipulação aceitava fazer o remédio. Eles não tinham o produto", lembra. Piti sofria com dores nas articulações. Esse é um dos sintomas da doença auto-imune, na qual uma falha no sistema imunológico produz células que atacam o próprio organismo.
Fernanda chegou a ser aconselhada por um veterinário a sacrificar o animal. Ela viveu quatro semanas de angústia até que surgiu uma luz no fim do túnel. Depois de pesquisar 26 farmácias em dois Estados (São Paulo e Rio), um laboratório aceitou remanipular o medicamento tradicional de acordo com as necessidades da cachorrinha. "A sensação de impotência diante do sofrimento do animal é a pior parte", diz. Com o auxílio do medicamento, os sintomas de Piti mostram retrocesso.
Patologias raras, diagnósticos complexos e tratamentos difíceis testam a resistência dos animais e desafiam veterinários. Sem opção, os donos precisam de paciência e coragem para buscar alternativas. Essa foi a conclusão da assessora pedagógica Joana Borrelli Cordeiro, dona de Joy, uma dachshund de 13 anos, diagnosticada com insuficiências cardíaca e renal raras. O coração de Joy estava controlado com a ajuda de remédios quando ela se mostrou cansada e sem apetite. "O veterinário disse que era idade", conta Joana. Como o desânimo só aumentava, ela resolveu tentar uma segunda opinião. Na consulta, constataram alteração na pressão arterial. Novo medicamento foi receitado. A cachorra passou a viver alguns dias bons e outros ruins.
A insuficiência parecia estar novamente sob controle. Mas Joy teve convulsão e sangramento nasal, resultado de uma crise de hipertensão. Os exames mostraram que o corpo estava sobrecarregado pelos remédios. "Dei carta branca para que fizessem o necessário", lembra. Internada há duas semanas, a cadela está sendo tratada com medicação humana. A análise laboratorial é feita pelo Instituto do Coração (InCor) em um trabalho pioneiro com os veterinários do Hospital Sena Madureira.
"A medicação nunca havia sido usada em animais", explica o veterinário e diretor do hospital, Mário Marcondes. A ousadia está dando resultado. Coração e pressão arterial foram estabilizados. Falta normalizar o funcionamento dos rins. Se o sucesso se confirmar, um novo padrão para tratamento de animais com doenças cardíacas poderá ser estabelecido. Joana torce para que a novidade seja popularizada. "Pode ajudar outros na mesma situação."
Não é o que parece
Falta de apetite, coceira e desânimo podem ser mais do que aparentam. Donos devem ficar atentos para o comportamento e a rotina do animal antes, durante e depois de qualquer tratamento, pois alterações nos hábitos de alimentação e higiene podem significar complicações.
"A perda do apetite normalmente está ligada a problemas primários sérios", afirma a professora Maria Helena Larson, da USP.
Em outubro do ano passado, a cadela SRD Minnie, 3, começou a lamber a pata sem parar. A dona de casa Tamoto Akemura, 44, sabia que havia algo errado com o animal e procurou ajuda. Primeiro diagnóstico: alergia. Tratamento indicado: sabonete. Não resolveu.
Outras receitas vieram. Todas sem resultado. "Depois de uma melhora curta, a doença voltava", conta Tamoto. O pêlo caiu, apareceram úlceras na pele e uma coceira contínua incomodava o bicho. A dona procurou outro veterinário.
O susto foi grande quando ela descobriu, seis meses depois, que a cadela sofria de pênfigo foliáceo. A patologia é semelhante ao lúpus e também não tem cura. "Parece uma alergia e pode ser confundido com outras doenças", exemplifica a veterinária Ana Luisa Mazorra.
O alívio chegou com a melhora dos sintomas. "Com a medicação, os banhos controlados e a ração especial para pele, a Minnie melhorou muito", comemora Tamoto.
Mesmo que à primeira vista o caso pareça simples, a luta contra essas doenças exige duros sacrifícios. Não só para os bichos. Mas principalmente para os donos
Publicado na Folha Online no dia 27/05/2008
terça-feira, 27 de maio de 2008
sábado, 17 de maio de 2008
Cães e gatos fazem teste de personalidade para ganhar donos nos EUA
Você já deve conhecer a história: uma paixão à primeira vista por um animal de estimação acaba virando um transtorno tempos depois. Para evitar que isso aconteça, um programa norte-americano passou a realizar testes de personalidade em gatos e cachorros.
O objetivo é que eles ganhem donos de acordo com cada perfil, informa a agência de notícias Associated Press. Batizada de Meet Your Match (Encontre seu Companheiro), a iniciativa é da Sociedade Americana para a Prevenção de Maus-Tratos a Animais (ASPCA, na sigla em inglês).
Jim Monsma, da Liga de Resgate a Animais em Washington, ressalta que as pessoas vão ao gatil em busca de animais com determinada aparência. "Mas gatos não são todos iguais. Eles têm personalidades muito diferentes."
O protetor de animais é um dos 45 que utilizam agora o programa de "felinidade", desenvolvido por Emily Weiss, especialista em comportamento da ASPCA. Nele, são avaliados diversos fatores comportamentais dos gatos, como confiança e sociabilidade.
O animal é então relacionado a uma de nove categorias de personalidade, como "líder do bando", "investigador particular" (para os mais quietos e observadores) e "assistente pessoal" (que quer participar de tudo, como digitar quando você está no computador e "segurar" o jornal quando você está lendo).
Na outra ponta da adoção dos animais, há também um teste com os candidatos a donos, que precisam preencher um questionário. Tudo para evitar a incompatibilidade entre ambos, que, segundo Monsma, é a principal causa de devolução de felinos ao gatil.
Publicado na Folha online, dia 16/05/2008
O objetivo é que eles ganhem donos de acordo com cada perfil, informa a agência de notícias Associated Press. Batizada de Meet Your Match (Encontre seu Companheiro), a iniciativa é da Sociedade Americana para a Prevenção de Maus-Tratos a Animais (ASPCA, na sigla em inglês).
Jim Monsma, da Liga de Resgate a Animais em Washington, ressalta que as pessoas vão ao gatil em busca de animais com determinada aparência. "Mas gatos não são todos iguais. Eles têm personalidades muito diferentes."
O protetor de animais é um dos 45 que utilizam agora o programa de "felinidade", desenvolvido por Emily Weiss, especialista em comportamento da ASPCA. Nele, são avaliados diversos fatores comportamentais dos gatos, como confiança e sociabilidade.
O animal é então relacionado a uma de nove categorias de personalidade, como "líder do bando", "investigador particular" (para os mais quietos e observadores) e "assistente pessoal" (que quer participar de tudo, como digitar quando você está no computador e "segurar" o jornal quando você está lendo).
Na outra ponta da adoção dos animais, há também um teste com os candidatos a donos, que precisam preencher um questionário. Tudo para evitar a incompatibilidade entre ambos, que, segundo Monsma, é a principal causa de devolução de felinos ao gatil.
Publicado na Folha online, dia 16/05/2008
Animais comunitários também precisam de cuidados

Longe de serem cães e gatos sem dono, animais comunitários ou semi-domiciliados fazem a alegria da vizinhança -mas também precisam de cuidados para se manter saudáveis e de bem com a sociedade.
por Cíntia Marcucci
No bar de "seu" Milo Felipe, 70, em uma esquina do bairro Pompéia, a clientela toda conhece Lobo. O cão SRD, idade estimada em 12 anos, passa os dias ali. Faz festinha para um, come um belisco oferecido por outro, cochila, mas, quando quer, sai sem avisar para dar suas voltas. "Ele adora o meu funcionário que cuida da churrasqueira. E uma das vizinhas prepara uma comida especial com arroz, carne e vegetais, que ele come fresquinha duas vezes ao dia", conta Milo.
De bobo, Lobo não tem nada. Cachorro de rua, há mais de dez anos ele arrumou pelo menos meia dúzia de donos que o alimentam, oferecem abrigo à noite, levam-no para tomar banho e para consultas no veterinário.
Lobo é um animal semi-domiciliado, isto é, recebe cuidados porém não tem um dono ou residência fixa. "Há muitos casos desse tipo. É claro que seria melhor se os bichos pudessem ter um dono com posse responsável. Mas, na falta de um, eu recomendo que as pessoas que cuidam se comuniquem sempre para dividir as tarefas e também para saber se ele está comendo normalmente ou se há algo de diferente em seu comportamento", explica o veterinário Daniel Svevo, do projeto Cão Cidadão, organização que apóia a posse responsável e o bem-estar animal.
Mesmo que não haja um só responsável pelo bicho, o Centro de Controle de Zoonoses de São Paulo recomenda que se estipule um "dono no papel". Assim é possível fazer um Registro Geral Animal (RGA) e colocar a plaquinha com um número de indentificação em sua coleira. "Todo animal encontrado solto em via pública, que esteja portando a coleira com o número do RGA, quando é trazido ao CCZ pode ser devolvido, pois, imediatamente, entramos em contato com seu proprietário ou responsável", explica a veterinária do CCZ Elisabete Aparecida da Silva.
Foi para evitar que a "carrocinha" levasse Negão, um cachorro SRD de 13 anos, que o auxiliar de escritório Bruno Costa Leite, 25, fez o registro. Negão era um filhote que morava no terreno baldio ao lado do prédio de Bruno, na Vila Mariana. "A molecada brincava com ele e ele resolveu vir atrás de mim. Era um tal de ele entrar no prédio e ser posto pra fora, tinha vizinho que reclamava, até que houve uma assembléia de condomínio e decidiram que ele ficaria morando aqui", conta.
Hoje ele é um "cãomunitário", com casinha própria. Os moradores do condomínio fazem "vaquinha" para comprar comida, levar ao veterinário, vacinam todo ano, dão banho de vez em quando e
até as roupinhas ele herdou do
cachorro de um morador que morreu. Negão passa o dia pelo prédio, correndo atrás das motos e dos carros na garagem e fazendo graça com o colete de segurança que ganhou do pessoal.
Todos por um
Para a cadela Kate, uma SRD com cerca de 9 anos, a história ganhou cores de conto de fadas. "Aqui na rua nós sempre cuidamos dos animais que apareciam. Acho que eles contavam uns para os outros que aqui tinha comida e carinho, e sempre aparecia algum. A Kate ficou uns seis meses indo e vindo só para comer, nós tratamos um tumor que ela tinha na vagina e dividimos os custos da castração e do veterinário, até que eu resolvi adotá-la de fato", conta a assistente administrativa Rosane Nunes, 52, que se lembra de ter arrumado donos para pelo menos outros dez animais que surgiram e eram cuidados pela vizinhança.
Seja o bicho de rua cuidado por várias ou por uma pessoa, algumas medidas são fundamentais para que ele conviva bem com a vizinhança e seja saudável. "A primeira é a castração, que impede que o número de animais abandonados aumente e também diminui os riscos de que o bicho se envolva em uma briga para disputar uma fêmea", explica Svevo.
Conhecido por todos os moradores de uma pequena rua do bairro de Mirandópolis, zona sul da cidade, o gato Alice, 4, foi castrado antes de completar o primeiro ano de vida. "A gente brinca em casa que ele é um gato-cachorro. Ele faz festa para todo mundo que chega, é super carinhoso", conta o dono oficial Tales Gremen, 22. Alice, que ganhou esse nome porque no início a família achou que se tratava de uma fêmea, dorme cada dia em uma casa e espera uma das vizinhas chegar da faculdade à noite para dar um "olá". É vadio, mas respeitoso.
Publicado na revista da folha no dia 02/12/2007